COVID-19 É transmissível por alimentos?

23 de março de 2020

Como a indústria alimentícia deve se comportar em meio ao caos.

Não é a primeira vez que a história Mundial passa por situações semelhantes a esta, mas cabe a ressalva que devido ao próprio nível de globalização que nos encontramos os impactos tendem a ser maiores, principalmente devido aos rápidos deslocamentos de um País a outro.

E uma pergunta recorrente ao nosso universo alimentício é se o novo Corona Vírus é transmissível por meio de alimentos, e a European Food Safety Authority – EFSA (Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos), que já vem acompanhando outras epidemias, nos da a seguinte perspectiva: NÃO HÁ EVIDÊNCIA A ESSE RESPEITO, pois a conclusão dos estudos realizados por vírus da mesma família, demonstram que não houve a transmissão por alimentos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a OMS, o vírus precisa de um hospedeiro, animal ou humano, para de desenvolver/multiplicar, logo, esse é um fator predominante que diminui a possiblidade de transmissão por produtos alimentícios, com o agravante de que grande parte de alimentos produzidos e até mesmo antes do consumo há aplicação de processo térmico, e como é sabido o vírus é sensível a altas temperaturas (sendo inativado já em torno dos 70 ºC).

No entanto, as indústrias de alimentos são as maiores empregadoras entre todos os segmentos, além de serem produtoras de itens básicos a manutenção da vida (fundamental), não podendo parar, pois isso significaria um colapso da nossa sociedade. Em contrapartida, se tem grandes parques industriais, com a aglomeração de colaboradores, se fazendo um grande disseminador do vírus, se ações bem planejadas não forem tomadas, sendo que muitas delas já são praticadas por programas legais implementados, como os requisitos de Boas Práticas de Fabricação (BPF), RDC 275:02 ANVISA (para indústrias transformadoras de alimentos) e RDC 216:04 (para estabelecimentos que produzem alimentos: restaurante, padarias, lanchonetes, etc).

Outro ponto importante a ser considerado é que o vírus em questão, COVID-19, pode se manter vivo por horas ou dias, a depender da superfície, da temperatura e umidade do ambiente, como por exemplo, em embalagens primárias plásticas ou mesas de inox, por até 72 horas, embalagens secundárias (papelão) por 24 horas, por isso, é muito importante redobrar a atenção e os procedimentos de higienização.

Orientações às indústrias de alimentos, frente ao cenário do COVID-19:

1. Reforçar práticas sanitárias de BPF

– Reforçar práticas sanitárias de BPF, pois higienizar as mãos é a melhor e mais segura forma de contenção do vírus. Dessa forma, reúna seus colaboradores e faça uma reciclagem com o modo correto de lavar as mãos com água e sabão, abrangendo inclusive pontas dos dedos, punhos e antebraço, secagem e uso do sanitizante álcool em gel. Ações simples como a de não levar as mãos às vias de contaminação como nariz, olhos, boca e apertos de mãos, abraços e apertos de mãos serem substituídos por acenos em uma distância segura.

Assim como modo correto de reter espirros, tosses, não conversar em áreas de passagem dos produtos, aumentar o número de recipientes com sanitizantes, assim o número de vezes que as mãos serão sanitizadas (crie horários fixos para essa prática, ou a cada uma hora com o toque de uma sirene, etc).

2. Quarentena para colaboradores

– Quarentena para colaboradores com possíveis sintomas, pois em hipótese alguma um profissional contaminado ou com sinais da presença do vírus poderá estar no mesmo ambiente que outros colaboradores, e no caso do Covid-19, não é aplicável o redirecionamento para outro setor, visto a própria recomendação da Organização Mundial da Saúde, para que não se tenha a promoção da contaminação dessa pessoa por meio das vias utilizadas até a mesma chegar ao ambiente de trabalho (ônibus, corredores, escadas, etc). Algumas empresas estão realizando o monitoramento da temperatura dos colaboradores na entrada, mas, antes de qualquer coisa é preciso que cada ser humano tenha consciência;

3. Libere o Home Office

– Possibilitar o Home Office, realizar levantamento de quais são as áreas e atividades que podem ser realizadas da casa do colaborador, de maneira a não comprometer o rendimento e mesmo segurança quanto a dados relativos a empresa, pois o intuito é diminuir o máximo possível a aglomeração de pessoas e também a disseminação durante o trajeto percorre por esse colaborador até chegar ao trabalho (meios de transporte, corrimãos de escadas, etc);

4. Distribua mais os horários de almoço

– Aumentar horários de almoço, para que o referido momento tenha menos pessoas possíveis, permitindo a prática de um distanciamento seguro entre os colaboradores, assim como, caso seja permitido repetir a alimentação, deverá ser realizada a troca do prato, para que não tenhamos contato dos utensílios de abastecimento com um prato que possa estar contaminado, o que aumenta o poder de contaminação;

5. Adiar reuniões, treinamentos e visitas presenciais

– Postergar reuniões, treinamentos, visitas presenciais e viagens, caso haja um nível de urgência para realização dessas atividades, utilize recursos tecnológicas simples como videoconferência pelo Skype, Whatsapp, Instagram, entre outras muitas ferramentas, tudo para que diminuamos a circulação e concentração de pessoas em um mesmo espaço. Profissionais que retornaram de viagens devem ser devidamente avaliados antes de qualquer acesso ao sitio industrial, como verificar o nível de contaminação da região de onde o mesmo veio, verificar os sinais de saúde desse colaborador, de preferência permitir que o mesmo tenha a prática da quarentena, visto que algumas pessoas contaminadas pelo Novo Corona Vírus foram assintomáticas.

Contudo, é muito importante que nos atentemos as informações oficiais Municipais, Estaduais e Federais, e antes delas, que façamos nossas análises de risco, considerando probabilidade e severidade e sua respectiva gestão de modo a minimizarmos o máximo possível os impactos que frente ao cenário que vivemos será inevitável e claro, desenvolvermos senso coletivo e responsabilidade consciente, pois o impacto em uma pessoa significará o reflexo em toda a sociedade e cadeias produtivas.

Jhonatas Moraes

Jhonatas Moraes

Químico Industrial, com 10 anos de experiência em industrias alimentícias, nas áreas de PeD e Qualidade/Segurança dos Alimentos, atualmente proprietário da Louco Por Alimentos, empresa de Consultoria e Assessoria em indústrias alimentícias e Auditor de segunda e terceira parte (BRC e IFS).